sábado, 21 de novembro de 2009

Crepúsculo - o filme


então bem que aqui estamos. agora, bombardeados por crepúsculo. é óbvio: depois do fim de harry potter, nada melhor que uma nova dose de filmes adolescentes.

coloco aqui uma crítica coerente do grande Luiz Carlos Merten sobre o filme, as propostas e as configurações, "Romeu e Julieta" que Bella e Edward representam. A volta do amor romântico, sem sexo, apenas com um grande "coito".

mas é inegável: o vampirinho tem um quê de james dean. ah, isso tem.


Crítica de cinema: 'Lua Nova' já nasce como fenômeno
Curioso assistir, numa plateia de adolescentes, ao filme adaptado da saga 'Crepúsculo', de Stephenie Meyers

Luiz Carlos Merten


SÃO PAULO - Vamos direto ao ponto – sob certos (múltiplos) aspectos, Lua Nova, que estreia hoje em 602 salas de todo o País, é horrível como 2012, que estreou na sexta passada. A dramaturgia do filme do alemão Roland Emmerich é o que Hollywood tem de mais raso. Resumindo – trata-se de uma saga familiar, discutindo a autoridade (do pai) e na qual o mundo quase acaba para que uma menininha resolva seu problema de fazer xixi na cama. Mas os efeitos são tão impressionantes que – Deus nos livre – só mesmo o apocalipse real, antecipado pelos maias em seu calendário para daqui a três anos, poderá sobrepujar a fantasia de horror proposta pelo cinema. O mundo não acaba em Lua Nova, mas, para Bella, ser abandonada por Edward Cullen é pior que isso.

Você pode nem estar ligado no saga Crepúsculo, mas com certeza já ouvir falar de que se trata de um fenômeno. A série de livros de Stephenie Meyers virou o hit entre adolescentes do mundo todo. Crepúsculo foi um grande sucesso sem investimentos exagerados, feito por uma empresa produtora independente, a Summit, depois que a major Warner não se interessou pelo projeto. Com Lua Nova, houve mais investimento, não só na produção, com efeitos mais caros – tudo o que envolve os lobisomens –, mas também no lançamento. O filme começou a ser exibido à meia-noite de quinta, na virada para esta sexta, 20. Antecipadamente, mais de 100 mil ingressos foram vendidos para o fim de semana na rede Cinemark.


Assistir a Lua Nova em meio a uma plateia de adolescentes é uma experiência e tanto. As garotas, principalmente, se descontrolam. Logo no começo, Bella chega à escola em sua velha camionete. Ela conversa com colegas. Entra em cena o carro do ‘gostoso’ – isto é, Edward, o doce vampiro. O diretor Chris Weitz adota o ponto de vista da garota. Edward desce do carro e avança em direção a ela. Weitz desacelera o movimento, cria um efeito de câmera (meio) lenta. Edward caminha como quem balança o corpo, como James Dean caminhava ao encarnar a rebeldia da juventude nos anos 1950. Mais tarde, Edward desapareceu – Bella pensa que ele a abandonou por não gostar mais dela – e aí é a vez do amigo Jacob tirar a camisa e exibir os bíceps reforçados. Esse desenvolvimento muscular tem razão de ser, mas Bella ainda não sabe. O importante é o impacto da primeira cena de Jake sem camisa, que leva as garotas – e os garotos, alguns por desejo, outros porque gostariam de ser ele – a uma explosão de histeria.

Nada disso prepara o espectador mais adulto para o que ocorre no desfecho. O filme termina com uma pergunta de Edward a Bella, que o diretor corta antes da resposta, que fica para o próximo exemplar da série, Eclipse. Houve pandemônio na pré-estreia na quarta-feira à noite, no Cinemark Eldorado. As garotas levantaram-se das poltronas, aplaudiram, pularam, muitas choraram.

É a vitória do romantismo. Lua Nova não é só romântico – é exageradamente romântico. Stephenie Meyers, vale lembrar, é professora de literatura, como também era Erich Segal, autor de outro best seller, Love Story, que virou filme (de Arthur Hiller) e um marco da produção hollywoodiana por volta de 1970. Kristen Stewart, a Bella, disse – em entrevista ao Estado – que Lua Nova não tem nada a ver com as velhas perversões dos filmes de vampiros. O filme retorna a Romeu e Julieta, cujos versos o Romeu das trevas recita de forma lânguida. Edward é o vampiro que não beija o pescoço da amada, não lhe suga o sangue. Sua atração sobre as plateias femininas vem disso. Apesar dos símbolos fálicos presentes ao longo do filme, Edward nem Jake concretizam as fantasias de sexo de quem quer que seja, incluindo as próprias.

Lua Nova é um permanente coito interrompido. A pergunta final do herói fornece a chave para o que ele pretende – comprometimento. Edward não é um vampiro tradicional. É o príncipe encantado, daí as reações que ele (ainda) provoca. Lua Nova pode ser ruim como cinema. Não importa. É um fenômeno. Nasceu com a vocação de cult e, isso sim, para seu público, é o que conta.

Lua Nova (The Twilight Saga: New Moon, 2009/EUA, 130 min.) - Aventura. Dir. Chris Weitz. 12 anos. Cotação: Ruim.

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